quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um pouquinho de Florbela Espanca...

Saudades

Saudades ! Sim... talvez... e por que não?
Se o nosso sonho foi tão alto e forte que bem pensava vê-lo até à morte deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer ! Para quê?... Ah! como é vão ! Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte deve-nos ser sagrado como o pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci, para mais doidamente me lembrar. mais doidamente me lembrar de ti !
E quem dera que fosse sempre assim: quando menos quisesse recordar mais a saudade andasse presa a mim !

Anseios

Meu doido coração aonde vais, No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade; Meu pobre coração olha que cais! Deixa-te estar quietinho! Não amais.
A doce quietação da soledade? Tuas lindas quirneras irreais, Não valem o prazer duma saudade! Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração, Não te deslumbres o brilho do luar!... Não estendas tuas asas para o longe.. Deixa-te estar quietinho, triste monge, Na paz da tua cela, a soluçar...

...
"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"

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