sábado, 22 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Não existe uma maneira de se fazer uma introdução a um texto de Clarice Lispector. Ela é simplesmente surreal, e qualquer coisa que eu diga não vai expressar o quanto eu a adoro.
Agradeço ao meu irmão por ter trazido a minha vida tal pessoa.


"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a
garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta:
eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria
água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à
levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a
graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da
água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles
quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial
das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela
não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a
grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem
um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam "
bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já
tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso
sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto
da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."


2 comentários:

Unknown disse...

Bonito texto.
Não está distraído, né?!
Hum...

Manoela Coelho disse...

Quê????
Não entendi!!!!!